sábado, 6 de outubro de 2012

Lucas 11, 37-54
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Enquanto Jesus falava, pediu-lhe um fariseu que fosse jantar em sua companhia. Ele entrou e pôs-se à mesa. Admirou-se o fariseu de que ele não se tivesse lavado antes de comer. Disse-lhe o Senhor: Vós, fariseus, limpais o que está por fora do vaso e do prato, mas o vosso interior está cheio de roubo e maldade! Insensatos! Quem fez o exterior não fez também o conteúdo? Dai antes em esmola o que possuís, e todas as coisas vos serão limpas. Ai de vós, fariseus, que pagais o dízimo da hortelã, da arruda e de diversas ervas e desprezais a justiça e o amor de Deus. No entanto, era necessário praticar estas coisas, sem contudo deixar de fazer aquelas outras coisas. Ai de vós, fariseus, que gostais das primeiras cadeiras nas sinagogas e das saudações nas praças públicas! Ai de vós, que sois como os sepulcros que não aparecem, e sobre os quais os homens caminham sem o saber. Um dos doutores da lei lhe disse: Mestre, falando assim também a nós outros nos afrontas. Ele respondeu: Ai também de vós, doutores da lei, que carregais os homens com pesos que não podem levar, mas vós mesmos nem sequer com um dedo vosso tocais os fardos. Ai de vós, que edificais sepulcros para os profetas que vossos pais mataram. Vós servis assim de testemunhas das obras de vossos pais e as aprovais, porque em verdade eles os mataram, mas vós lhes edificais os sepulcros. Por isso, também disse a sabedoria de Deus: Enviar-lhes-ei profetas e apóstolos, mas eles darão a morte a uns e perseguirão a outros. E assim se pedirá conta a esta geração do sangue de todos os profetas derramado desde a criação do mundo, desde o sangue de Abel até o sangue de Zacarias, que foi assassinado entre o altar e o templo. Sim, declaro-vos que se pedirá conta disso a esta geração! Ai de vós, doutores da lei, que tomastes a chave da ciência, e vós mesmos não entrastes e impedistes aos que vinham para entrar. Depois que Jesus saiu dali, os escribas e fariseus começaram a importuná-lo fortemente e a persegui-lo com muitas perguntas, armando-lhe desta maneira ciladas, e procurando surpreendê-lo nalguma palavra de sua boca.
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Jesus foi convidado para jantar na casa de um fariseu. Este, assim como os demais fariseus, fiel cumpridor da Lei em seus pormenores, logo notou, admirado, o fato de Jesus não ter lavado as mãos antes de comer. O texto diz apenas que o fariseu admirou-se, nada mais. E a partir daí, Jesus dá início a uma série de "ai de vós, fariseus!", tecendo duras críticas às posturas omissas e contraditórias tomadas por eles. Observe-se que Jesus estava na casa do fariseu, havia sido convidado. O fariseu, mesmo que tivesse achado absurdo Jesus ter comido de mãos sujas, fez uma crítica à falta de modos do convidado de maneira sutil, tendo apenas expressado "admiração". 
É de se crer que Jesus tenha mesmo querido provocar o tal fariseu, pois sabia da sua postura e do excessivo rigor com que seguia a Lei. Só esperou uma deixa para chamar o fariseu-anfitrião e os demais de ladrões, maus, injustos, cheios de podridão. Foi quando um doutor da lei (por certo amigo do fariseu-anfitrião e fariseu também), ali presente, percebendo que a carapuça servia também em sua cabeça, sentiu-se insultado. Mas Jesus, voltando-se para ele, começou outra série de "ai de vós, doutores da lei!", colocando todos no mesmo balaio. 
Jesus não estava preocupado com etiquetas, com o fato de ele ser o convidado do jantar e o outro o dono da casa. A sua missão estava acima de qualquer coisa, não era relativizada conforme as circunstâncias.  Não se importou se suas críticas iriam causar mal estar ou indigestão aos presentes.
Jesus é profundo conhecedor do coração humano. Para ele as aparências não tem relevância alguma. Tendo sido convidado, não hesitou, foi ao encontro de quem o chamava, mesmo sabendo de quem se tratava. Poderia ter dito: "Não vou. Aquele é caso perdido. Não vou perder meu tempo." Mas Jesus veio para todos, sem exceção. E se via a dureza nos corações, sentia-se no dever de criticar. Se não servisse para os destinatários diretos da crítica, poderia servir para outros que acaso ouvissem, para que não fossem daquele jeito, para que fossem exatamente o contrário daquele mau exemplo. O que Jesus não fez foi ficar calado quando se via no dever de falar. E o fazia porque tinha autoridade.
Jesus está sempre disponível para entrar também na nossa casa. O que não se pode esperar de sua visita é que ele de vez em quando não vá falar ao coração de forma contundente um "ai de você!", por conta do nosso cotidiano impregnado de atos farisaicos. Por vezes, a carapuça nos serve tão bem! E nós, perdendo tempo, detidos a olhar as mãos sujas dos outros.