Cada um de nós, de forma consciente ou não, elege suas prioridades. Decidi colocar no rol das minhas prioridades ser simples. Por fora, menos maquiagem, menos tinta no cabelo, menos esmalte, menos acessórios, bolsas, sapatos etc. Por dentro, exercitar a humildade, sempre, sempre, sempre. Fim de ano é tempo de rever as nossas prioridades, tirar algumas coisas da lista e acrescentar outras.
domingo, 16 de dezembro de 2012
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
MARCO 1000
Quero registrar que hoje este tímido e despretensioso blog, criado em julho deste ano, sem qualquer divulgação, atingiu a marca de 1000 visualizações. O objetivo sempre foi o de colocar à disposição do mundo virtual um modo de pensar sobre o mundo real, sem a pretensão de mudar o pensamento de ninguém, mas apenas de levar à reflexão. Bem, 1000 acessos não representa nada praticamente, mas acredito no efeito multiplicador dos nossos pensamentos. Uma semente pode até não produzir frutos, mas certamente só haverá chances de produzir se for lançada. Quero aproveitar, ainda, para agradecer: obrigada a todos(as) pelas visitas!
sexta-feira, 16 de novembro de 2012
BRIGADEIRO NOSSO DE CADA FESTA
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
MULHERES ENCALHADAS
Não há nada mais contraditório do que uma mulher machista.
Não é culpa dela, claro. Nossa sociedade ainda é machista e consequentemente muitas mulheres o são, mesmo sem sentir, sem querer, sem pensar, sem se dar conta.
Outra expressão que se ouve por aí (dita inclusive por mulheres) é
que "só tem mulher quem pode". Mais uma vez, a mulher se coloca como
objeto de consumo. A mulher, então, se equipara aos outros bens do homem. Só
tem carro quem pode encher o tanque, pagar os impostos, fazer seguro. Só tem
mulher quem pode sustentá-la e pagar os seus "luxos". E, assim, a relação
da mulher com o homem, não se estabelece num patamar de igualdade. E que papel
desempenha a mulher numa relação como essa? Tem ela verdadeira autonomia sobre
sua vida? É preciso ter muito cuidado com essas e outras expressões aparentemente
inocentes (e isso vale para as mulheres e para os homens)...porque as palavras têm força e às vezes, sem sentir, sem querer,
sem pensar, sem nos darmos conta, estamos ajudando a perpetuar toda sorte de
desigualdade que oprime, sujeita, adoece e até causa a morte da mulher.
Ainda
escutamos, por exemplo, alguém (mulher) dizer que fulana está "encalhada"
porque não namora faz um tempão, ou porque já passou dos 30 e ainda não casou.
E, pasmem, se ela quiser "desencalhar", há blogs (de mulheres) dando dicas! E o que dizer de uma revista de grande circulação nacional se referir a uma famosa como "cinquentona, feliz e desencalhada"? Dá pra imaginar a mesma revista fazendo alusão a um famoso como "cinquentão, feliz e desencalhado"? Ah, de jeito nenhum! Homens não encalham. Esses estão solteiros por
livre e espontânea vontade.
Mas que mal há nisso? Tem gente que até acha engraçada a expressão. Mas machismo é coisa séria. Não tem a menor graça. Porque o machismo que está na cabeça se reflete no falar e mais adiante ou concomitantemente no modo de agir (ou na inércia) da mulher. Mulher não é mercadoria para encalhar na prateleira. Quando essa expressão é reproduzida, coloca a mulher solteira num patamar de inferioridade com relação àquelas que foram "escolhidas" para serem "consumidas" pelo homem, e isso se reflete na sua auto-estima. E o que acontece com as outras que estão acompanhadas? Elas correm o risco de estarem mal acompanhadas e assim permanecerem, só para não receberem a "pecha" de mulher "encalhada", ainda que vivam sendo humilhadas, maltratadas, ignoradas, traídas por seus homens, isso quando não sofrem diversas outras formas de violência.
Mas que mal há nisso? Tem gente que até acha engraçada a expressão. Mas machismo é coisa séria. Não tem a menor graça. Porque o machismo que está na cabeça se reflete no falar e mais adiante ou concomitantemente no modo de agir (ou na inércia) da mulher. Mulher não é mercadoria para encalhar na prateleira. Quando essa expressão é reproduzida, coloca a mulher solteira num patamar de inferioridade com relação àquelas que foram "escolhidas" para serem "consumidas" pelo homem, e isso se reflete na sua auto-estima. E o que acontece com as outras que estão acompanhadas? Elas correm o risco de estarem mal acompanhadas e assim permanecerem, só para não receberem a "pecha" de mulher "encalhada", ainda que vivam sendo humilhadas, maltratadas, ignoradas, traídas por seus homens, isso quando não sofrem diversas outras formas de violência.
Fonte: Revista Veja, Edição 2314, 27/03/2013, p.66. |
terça-feira, 6 de novembro de 2012
DUPLA JORNADA
Dentro da mulher que trabalha em dupla jornada há uma mulher que um dia acreditou ser seu dever trabalhar em dupla jornada.
domingo, 28 de outubro de 2012
POSSO TIRAR UMA FOTO?
“Que vista linda! Posso tirar uma foto? É pra levar pra meus
colegas verem lá no meu Estado. É que lá a vista é pros outros prédios.”
Praia da Avenida hoje |
Praia da Avenida nos anos 50/60 |
terça-feira, 9 de outubro de 2012
Estude se quiser ser alguém na vida
"Estude, se quiser ser alguém na vida."
Quem nunca ouviu essa frase quando criança? Acredito que muitos ouviram ou já a disseram a seus filhos. Claro que a frase é cheia de boas intenções. Quem não quer que seu(ua) filho(a) alcance independência financeira, tenha uma carreira de sucesso, seja lá em que profissão for?
Mas ser "alguém" é sinônimo de ser bem sucedido profissionalmente? Estranho isso... Será que não somos "alguém" desde o dia em que nascemos? Porque se partirmos do pressuposto de que uma pessoa para ser "alguém" tem de estar bem colocado no mercado de trabalho, os que não conseguem passam automaticamente a ser "ninguém". É o famoso "Zé ninguém", outra expressão usual entre nós. Então, se alguém é ninguém, pode eventualmente ser ignorado, humilhado, por alguns(as) daqueles(as) que alcançaram sucesso e dinheiro e que estão mais do que convencidos(as) de que, eles(as) sim, são alguém.
Quem nunca ouviu essa frase quando criança? Acredito que muitos ouviram ou já a disseram a seus filhos. Claro que a frase é cheia de boas intenções. Quem não quer que seu(ua) filho(a) alcance independência financeira, tenha uma carreira de sucesso, seja lá em que profissão for?
Mas ser "alguém" é sinônimo de ser bem sucedido profissionalmente? Estranho isso... Será que não somos "alguém" desde o dia em que nascemos? Porque se partirmos do pressuposto de que uma pessoa para ser "alguém" tem de estar bem colocado no mercado de trabalho, os que não conseguem passam automaticamente a ser "ninguém". É o famoso "Zé ninguém", outra expressão usual entre nós. Então, se alguém é ninguém, pode eventualmente ser ignorado, humilhado, por alguns(as) daqueles(as) que alcançaram sucesso e dinheiro e que estão mais do que convencidos(as) de que, eles(as) sim, são alguém.
sábado, 6 de outubro de 2012
Lucas 11, 37-54
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Enquanto Jesus falava, pediu-lhe um fariseu que fosse jantar em sua companhia. Ele entrou e pôs-se à mesa. Admirou-se o fariseu de que ele não se tivesse lavado antes de comer. Disse-lhe o Senhor: Vós, fariseus, limpais o que está por fora do vaso e do prato, mas o vosso interior está cheio de roubo e maldade! Insensatos! Quem fez o exterior não fez também o conteúdo? Dai antes em esmola o que possuís, e todas as coisas vos serão limpas. Ai de vós, fariseus, que pagais o dízimo da hortelã, da arruda e de diversas ervas e desprezais a justiça e o amor de Deus. No entanto, era necessário praticar estas coisas, sem contudo deixar de fazer aquelas outras coisas. Ai de vós, fariseus, que gostais das primeiras cadeiras nas sinagogas e das saudações nas praças públicas! Ai de vós, que sois como os sepulcros que não aparecem, e sobre os quais os homens caminham sem o saber. Um dos doutores da lei lhe disse: Mestre, falando assim também a nós outros nos afrontas. Ele respondeu: Ai também de vós, doutores da lei, que carregais os homens com pesos que não podem levar, mas vós mesmos nem sequer com um dedo vosso tocais os fardos. Ai de vós, que edificais sepulcros para os profetas que vossos pais mataram. Vós servis assim de testemunhas das obras de vossos pais e as aprovais, porque em verdade eles os mataram, mas vós lhes edificais os sepulcros. Por isso, também disse a sabedoria de Deus: Enviar-lhes-ei profetas e apóstolos, mas eles darão a morte a uns e perseguirão a outros. E assim se pedirá conta a esta geração do sangue de todos os profetas derramado desde a criação do mundo, desde o sangue de Abel até o sangue de Zacarias, que foi assassinado entre o altar e o templo. Sim, declaro-vos que se pedirá conta disso a esta geração! Ai de vós, doutores da lei, que tomastes a chave da ciência, e vós mesmos não entrastes e impedistes aos que vinham para entrar. Depois que Jesus saiu dali, os escribas e fariseus começaram a importuná-lo fortemente e a persegui-lo com muitas perguntas, armando-lhe desta maneira ciladas, e procurando surpreendê-lo nalguma palavra de sua boca.
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Jesus foi convidado para jantar na casa de um fariseu. Este, assim como os demais fariseus, fiel cumpridor da Lei em seus pormenores, logo notou, admirado, o fato de Jesus não ter lavado as mãos antes de comer. O texto diz apenas que o fariseu admirou-se, nada mais. E a partir daí, Jesus dá início a uma série de "ai de vós, fariseus!", tecendo duras críticas às posturas omissas e contraditórias tomadas por eles. Observe-se que Jesus estava na casa do fariseu, havia sido convidado. O fariseu, mesmo que tivesse achado absurdo Jesus ter comido de mãos sujas, fez uma crítica à falta de modos do convidado de maneira sutil, tendo apenas expressado "admiração".
É de se crer que Jesus tenha mesmo querido provocar o tal fariseu, pois sabia da sua postura e do excessivo rigor com que seguia a Lei. Só esperou uma deixa para chamar o fariseu-anfitrião e os demais de ladrões, maus, injustos, cheios de podridão. Foi quando um doutor da lei (por certo amigo do fariseu-anfitrião e fariseu também), ali presente, percebendo que a carapuça servia também em sua cabeça, sentiu-se insultado. Mas Jesus, voltando-se para ele, começou outra série de "ai de vós, doutores da lei!", colocando todos no mesmo balaio.
Jesus não estava preocupado com etiquetas, com o fato de ele ser o convidado do jantar e o outro o dono da casa. A sua missão estava acima de qualquer coisa, não era relativizada conforme as circunstâncias. Não se importou se suas críticas iriam causar mal estar ou indigestão aos presentes.
Jesus é profundo conhecedor do coração humano. Para ele as aparências não tem relevância alguma. Tendo sido convidado, não hesitou, foi ao encontro de quem o chamava, mesmo sabendo de quem se tratava. Poderia ter dito: "Não vou. Aquele é caso perdido. Não vou perder meu tempo." Mas Jesus veio para todos, sem exceção. E se via a dureza nos corações, sentia-se no dever de criticar. Se não servisse para os destinatários diretos da crítica, poderia servir para outros que acaso ouvissem, para que não fossem daquele jeito, para que fossem exatamente o contrário daquele mau exemplo. O que Jesus não fez foi ficar calado quando se via no dever de falar. E o fazia porque tinha autoridade.
Jesus está sempre disponível para entrar também na nossa casa. O que não se pode esperar de sua visita é que ele de vez em quando não vá falar ao coração de forma contundente um "ai de você!", por conta do nosso cotidiano impregnado de atos farisaicos. Por vezes, a carapuça nos serve tão bem! E nós, perdendo tempo, detidos a olhar as mãos sujas dos outros.
sábado, 11 de agosto de 2012
Todo político é igual?
Andei tendo umas aulinhas básicas de raciocínio lógico, e umas das lições que tive foi sobre lógica dedutiva, na qual se estuda silogismo. Um silogismo é uma inferência, na qual a verdade de uma proposição (a conclusão) segue como consequência de duas outras proposições (premissas). Neste raciocínio, o professor me deu o seguinte exemplo: Todo homem é mortal (premissa 1). Sócrates é homem (premissa 2). Conclusão: Sócrates é mortal.
Então comecei a pensar em outros exemplos, pra fixar melhor o conhecimento adquirido, utilizando o mesmo raciocínio, e como estamos em ano eleitoral, não pude deixar de lembrar dos políticos. Vamos ao exemplo: As pessoas são diferentes (premissa 1). Políticos são pessoas (premissa 2). Conclusão: Todos os políticos não são iguais.
Então comecei a pensar em outros exemplos, pra fixar melhor o conhecimento adquirido, utilizando o mesmo raciocínio, e como estamos em ano eleitoral, não pude deixar de lembrar dos políticos. Vamos ao exemplo: As pessoas são diferentes (premissa 1). Políticos são pessoas (premissa 2). Conclusão: Todos os políticos não são iguais.
Almoço de Negócios
Ouvi na rádio um anúncio de um restaurante que falava mais ou menos assim: " Conosco, o seu almoço de negócios é muito mais prazeroso..." E hora de almoço é hora de negociar? Comigo não tem esse negócio não. Hora de almoço é hora de almoço. E só. Deve ser porque não entendo do mundo dos negócios...Mas de almoço eu entendo. Almoço é hora sagrada. Desculpaê, mas quem quiser negociar comigo vai ter de marcar outra hora.
sábado, 4 de agosto de 2012
A nova lei anti-trote
Noticia-se que no SAMU, de 80 a 85% das ligações recebidas em Maceió pelo
192 são trotes, razão por que mês passado
foi publicada no DOE de Alagoas lei que
regulamenta punição para os infratores.
É de causar indignação que em nossa sociedade, tão
carente, com tantas necessidades a serem atendidas e ainda permeada pela
corrupção, que já desvia tantos recursos destinados à população, haja pessoas
que se dêem o trabalho de mover uma equipe de socorro para o nada,
desperdiçando tempo dos profissionais, causando prejuízos financeiros e ainda
correndo-se o risco de que alguém que realmente precise deixe de ser atendido.
Absurdo ainda é que, para punir os responsáveis pelos
famigerados trotes, houve a necessidade da elaboração de uma lei. Mais desperdício
de tempo e de recursos, como se não houvesse tantas outras leis a serem
discutidas e votadas, visando, inclusive, à melhoria da saúde. Fica muito difícil avançar em
conquistas quando a própria sociedade se torna responsável por dar passos para
trás.
A boa notícia é que há projetos do SAMU em Maceió no
sentido de conscientizar crianças e jovens sobre o tema nas escolas. Uma
esperança de que condutas como essas um dia, quem sabe, sejam totalmente
extirpadas da nossa sociedade.
domingo, 22 de julho de 2012
Homossexualidade não é pecado
Muito se propaga que a homossexualidade não
está nos planos de Deus para a humanidade, pelo simples fato de Ele ter criado
pessoas de sexo masculino e feminino, pelo que se deduz que foram criados para
se complementarem, pela anatomia dos corpos. Sendo assim, a solução para
aqueles que não nasceram heterossexuais não viverem em pecado seria a
castidade.
Mas se não está nos planos de Deus, porque
então Ele criou pessoas homossexuais? A sexualidade é de fundamental
importância para todas as pessoas. Como pode Deus privilegiar algumas pessoas,
criando-as heterossexuais, e condenar outras a viver uma castidade imposta? Há
muitos que criticam o fato de o clero não casar, mas esquecem que todos que aderiram
a esse modo de vida o fizeram por livre vontade. Mas as pessoas homossexuais que querem
e precisam viver a sua sexualidade, não.
Em relação à anatomia e complementaridade dos
corpos, este é um argumento frágil e insustentável. Cada qual sabe o que mais
vai lhe satisfazer e complementar, não é quem está de fora quem define isso,
até porque a sexualidade envolve outras questões muito mais íntimas e profundas,
que dizem respeito aos sentimentos. Não somos máquinas onde uma peça se encaixa
na outra para funcionar adequadamente.
Realmente, não é crível que Deus tenha criado
alguém para sofrer com o peso da culpa por sentirem-se atraídas por pessoas do
mesmo sexo ou por viverem tolhidas na sua sexualidade.
É certo que no livro de Levítico fala que o
homem que se deita com outro homem comete uma abominação (Lv 18, 22), mas no
mesmo livro diz que se a filha de um sacerdote se prostitui, deve ser queimada
(Lv 21, 9), diz também que quando uma mulher tiver relações com um homem, os
dois deverão tomar banho, e ficarão impuros até à tarde. (Lv 15, 18), diz ainda
que quem comer alguma coisa sacrificada a Deus, terá que ser comida no mesmo
dia ou no dia seguinte, se alguém comer no terceiro dia, carregará o peso de
sua culpa, porque profanou a santidade de Deus e será eliminado do seu povo (Lv
19, 5-8). Há coisas realmente difíceis de serem compreendidas hoje quando se lê
alguns textos do Velho Testamento. E Jesus ainda disse: “Não pensem que eu vim
abolir a Lei e os Profetas. Não vim abolir, mas dar-lhes pleno cumprimento.”
(Mt 5, 17-20)
Mas quando Jesus fala do
pleno cumprimento da lei, ele a aperfeiçoa sempre no sentido do amor, e não no
sentido de usar a lei para nos oprimir e condenar, a exemplo de quando ele
fala: “Vocês ouviram o que foi dito aos antigos: Não mate! Quem matar será
condenado pelo tribunal”. Eu porém, lhes digo: todo aquele que fica com raiva
do seu irmão se torna réu perante e o tribunal.” Mas uma vez, Jesus diz: “Vocês
ouviram também o que foi dito aos antigos: ´Não jurem falso’ mas ´cumpra os
seus juramentos para com o Senhor´. Eu, porém, lhes digo: não jurem de modo
algum...Digam apenas ´sim´, quando é ´sim´ e não, quando é não. O que você
disser além disso, vem do Maligno.” Assim, nesse último exemplo, Jesus está nos
dizendo que devemos ser verdadeiros em toda e qualquer circunstância, de modo
que a harmonia possa permear as relações.
Vejamos, ainda, a
passagem do evangelho de Lucas, sobre a mulher adúltera (Lc 8, 37): “Chegaram
os doutores da Lei e os fariseus trazendo uma mulher, que tinha sido pega
cometendo adultério. Elas colocaram a mulher no meio e disseram a Jesus: ‘Mestre,
essa mulher foi pega em flagrante cometendo adultério. A Lei de Moisés manda
que mulheres desse tipo devem ser apedrejadas. E tu, o que dizes?’ Perguntavam
isso para tentá-lo a fim de terem do que o acusar. Jesus, inclinando-se,
escrevia com o dedo no chão. Como insistissem em perguntar, ergueu-se e lhes
disse: ‘Aquele de vós que estiver sem pecado, atire-lhe a primeira pedra’. E, inclinando-se de novo, continuou a
escrever no chão. Ouvindo isso, eles foram saindo um a um, começando pelos mais
velhos. E Jesus ficou sozinho. Ora, a mulher continuava ali no meio. Jesus
então se levantou e perguntou: ‘Mulher, onde estão os outros? Ninguém condenou
você?’ Ela respondeu: ‘Ninguém, Senhor’. Então Jesus disse: ‘Eu também não a
condeno. Pode ir e não peque mais.’ Ora, como o mesmo Jesus que disse que veio
para dar pleno cumprimento à Lei, deixou de aplicá-la? A rigor, ele deveria ter
concordado com o apedrejamento, pois é como está escrito na lei. Mas, ao
contrário, fez todos refletir que aquela lei não poderia ser aplicada. O amor e
a misericórdia prevaleceram nesse caso, não a condenação e a morte.
Por outro lado, quando um especialista em leis
perguntou a Jesus, procurando prová-lo, o que deveria fazer para receber em
herança a vida eterna, Jesus perguntou-lhe: "O que é que está escrito na Lei?
Como você lê? Ele então respondeu: ´Ame o Senhor, seu Deus, com todo o seu
coração, com toda a sua alma, com toda a sua força e com toda a sua mente; e ao
seu próximo como a si mesmo´. Então Jesus lhe disse: Você respondeu certo. Faça
isso e viverá.” (Lc 10, 25-28). No evangelho de Mateus, Jesus nos fala que:
“Tudo o que vocês desejam que os outros façam a vocês, façam vocês também a
eles. Pois nisso consistem a Lei e os Profetas” (Mt 7, 12).
Como se vê, Jesus, mais
uma vez aborda o tema do amar ao próximo como a si mesmo, apenas utilizando-se
de outras palavras. Das citações acima podemos deduzir que a salvação não passa
pela condição de homossexualidade ou não, mas sim pela vivência do amor a Deus
e ao próximo, do qual decorrem todas as práticas verdadeiramente cristãs.
E tal raciocínio é corroborado,
ainda, pelo que nos diz Jesus mais adiante, no mesmo evangelho: “Quando o Filho do Homem voltar na
sua glória e todos os anjos com ele, sentar-se-á no seu trono glorioso. Todas
as nações se reunirão diante dele e ele separará uns dos outros, como o pastor
separa as ovelhas dos cabritos. Colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos
à sua esquerda. Então o Rei dirá aos que estão à direita: - Vinde, benditos de
meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo,
porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era
peregrino e me acolhestes; nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava
na prisão e viestes a mim. Perguntar-lhe-ão os justos: - Senhor, quando foi que
te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de
beber? Quando foi que te vimos peregrino e te acolhemos, nu e te vestimos?
Quando foi que te vimos enfermo ou na prisão e te fomos visitar? Responderá o
Rei: - Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes
meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes. Voltar-se-á em
seguida para os da sua esquerda e lhes dirá: - Retirai-vos de mim, malditos!
Ide para o fogo eterno destinado ao demônio e aos seus anjos. Porque tive fome
e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber; era peregrino e
não me acolhestes; nu e não me vestistes; enfermo e na prisão e não me
visitastes. Também estes lhe perguntarão: - Senhor, quando foi que te vimos com
fome, com sede, peregrino, nu, enfermo, ou na prisão e não te socorremos? E ele
responderá: - Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que deixastes de fazer
isso a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer. E estes irão
para o castigo eterno, e os justos, para a vida eterna. (Mt 25, 31-40).
A passagem é grande,
mas é importante reproduzi-la na íntegra para, mais uma vez, chegarmos à
conclusão de que a homossexualidade é absolutamente indiferente em relação aos
planos de salvação que Deus tem para nós. Talvez haja uma certa rigidez na
interpretação do tema, até porque se falarmos de (hetero)sexualidade ainda é
tabu em nossa sociedade, por mais que tenhamos avançado, o que não dizermos da
homossexualidade.
É difícil imaginarmos
o sentido de várias regras contidas no Levítico, quando lemos hoje, mas Jesus
veio justamente para colocar a Lei sob outra ótica, a ótica do amor. O que
poderia restar da lei contida no Levítico poderia ser no sentido de que ninguém
deve usar o corpo do outro de forma egoísta, sem que o amor esteja presente na
relação, o que reduziria o outro a mero objeto de prazer. Mas isso é válido
para qualquer relação, não só a homossexual.
Se as relações
homossexuais estáveis públicas nos nossos dias ainda passam pelas barreiras do
preconceito, para nós hoje é praticamente impossível imaginarmos como eram
vistas e vividas tais relações naquela época, o que talvez para aquele momento
fizesse sentido a Lei. Ressalte-se ainda, que em nenhum dos evangelhos Jesus
fala a respeito do tema. Apenas mais à frente, na primeira carta aos Coríntios,
Paulo vem falar que os “efeminados” não herdarão o Reino de Deus, mas no
contexto dos outros que não herdarão o Reino estão adúlteros, depravados,
sodomitas etc., e mais adiante ele continua falando sobre imoralidades e prostituição. Mais uma vez o que se depreende do texto, no
contexto em que está inserida a expressão “efeminado”, é que ele está se
referindo ao uso do corpo, desprovido de qualquer respeito a si e ao próximo, o
que pode ocorrer com qualquer pessoa, homossexual ou não. Do contrário, se
formos levar em consideração o entendimento ao pé da letra, o fato de ser
homossexual, mesmo sendo casto, já levaria quem o é à condenação, já que “efeminado”
estaria como sinônimo de “homossexual”, palavra esta inexistente à época. Então
a simples condição de o ser já seria pecado, já que não é escolha da pessoa, e se assim fosse, Deus já estaria criando filhos fadados à
condenação, o que não faz o menor sentido.
segunda-feira, 16 de julho de 2012
domingo, 15 de julho de 2012
No consultório da dentista
Fui à dentista levar
minha filha. Como a consulta poderia demorar e sabendo que as opções de “distração”
em consultórios resumem-se a revistas de fofocas e TV, levei um livro e um fone
de ouvido para ouvir música do meu celular. Na sala de espera não tinha muita gente. Apenas um homem e um casal
com uma criança de aproximadamente 6 anos. Logo após o homem entrou para a consulta e ficou o
casal e a filha. A mãe, folheava uma das revista do consultório e o pai
brincava com a menina. Peguei meu livro e tentei ler. Tentei, mas não consegui
avançar na leitura. Creio que o pai se esqueceu que estava num consultório.
Pensava que estava na varanda da casa dele ou num parque de diversões. Faziam um
barulho tão grande que não conseguia me concentrar na leitura. Obviamente, parei
de ler. Tudo bem que crianças são inquietas, barulhentas mesmo. Particularmente,
gosto muito de criança, mas acredito que respeitar o espaço dos outros é algo
essencial. É algo que deve ser ensinado desde pequeno. E o pior não foi isso.
Logo depois que a mãe e a criança entraram para ser atendidas, o pai pegou o
seu celular, colocou para tocar uma música no volume máximo. Nem para eu ouvir
uma música no fone de ouvido dava. Tudo bem que consultório não é biblioteca,
que também não estava na minha casa. O mundo é barulhento, não tem jeito. Mas
quando saio para o mundo, lembro-me de que ele é de todos, então não posso me
comportar como se fosse só meu. Educação também está nas sutilezas do
cotidiano, é se colocar no lugar do outro nas pequenas coisas, para que a
nossa casa coletiva seja um lugar mais prazeroso de se morar.
sábado, 14 de julho de 2012
Deus é Homem?
Sempre questionei sobre a masculinidade de Deus. Porque temos um Deus e não uma Deusa? Jesus fala do Pai, ou seja, reforça a imagem de Deus como homem, não como mulher. Acredito mesmo que Deus não é pai nem mãe, é um SER, reunindo todas as características tidas como masculinas e femininas.
Creio que ficaria mesmo difícil p/ naquele tempo essa concepção ser aceita (e hoje também o é) e Jesus e Deus, sabendo disso, preferiram, digamos, não mexer nesse assunto, até porque isso não era o mais importante.
Jesus veio a nós encarnado como homem. Mas o primeiro capítulo do evangelho de João, diz que "No começo, a palavra já existia" (v.1) e depois que "a palavra se fez homem e habitou entre nós" (v.14). A palavra poderia se ter feito "mulher" e ter habitado entre nós do mesmo jeito. Poderíamos ler "homem" como "ser humano", então. Mas se o for, dá no mesmo, pois ser humano se refere ao homem ou à mulher. Então tanto faria o gênero em que a palavra se encarnasse.
Mas é compreensível que Jesus tenha se encarnado como homem. Ante a cultura do mundo de então, se como homem foi difícil pregar o evangelho, como mulher, quem o escutaria? Nesse campo da fé, temos mais dúvidas do que certezas, mas creio que seja possível que Jesus possa ser apenas um espírito desidentificado com masculinidade ou feminilidade, ou melhor, provido das duas características, um ser integral também, tal como Deus.
Jesus, talvez, sutilmente, estivesse apontando para essa realidade quando disse que "na ressurreição, os homens e as mulheres não se casarão, pois serão como os anjos do céu." (Mt 22, 30). Poderíamos dizer que estaria subentendido na frase um complemento mais ou menos assim: "pois serão como os anjos do céu, que não se casam", mas não creio que tenha sido nessa perspectiva, mas sim noutra: "pois serão como os anjos do céu, em sua essência." E os anjos não possuem uma identificação masculina ou feminina.
sexta-feira, 13 de julho de 2012
MATEUS 19, 13-15
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MATEUS 19,
13-15
Foram-lhe,
então, apresentadas algumas criancinhas para que pusesse as mãos sobre elas e
orasse por elas. Os discípulos, porém, as afastavam. Disse-lhes Jesus: Deixai
vir a mim estas criancinhas e não as impeçais, porque o Reino dos céus pertence
a elas. E, depois de impor-lhes as mãos, continuou seu caminho.
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Nesta
passagem, Jesus, sabiamente, nos lembra do quanto as crianças são preciosas, a
tal ponto de dizer que o Reino dos céus lhes pertence. Diz o texto, ainda, que “...depois de
impor-lhes as mãos, (Jesus) continuou seu caminho.” Jesus estava a caminho. Por
certo, multidões esperavam Jesus ali ou acolá para ouvi-lo. E Jesus tinha muito
o que pregar às multidões. Afinal, foi para isso que ele veio à Terra. Os
discípulos sabiam disso, não queriam que o Mestre se atrasasse (aquela pressa
habitual de quem tem agenda lotada) e quiseram impedir a aproximação das
crianças. Tentaram afastá-las. Mas Jesus parou. Deu atenção pras crianças. Abençoou-as.
Não as deixou em segundo plano. As multidões podiam esperar um pouco. Que
cuidado, carinho e atenção Jesus dispensou às crianças!
Não
foi por acaso que ele nos deixou esta mensagem. A palavra de Jesus não pode se
limitar a meras constatações. Deve produzir frutos. Jesus certamente não deseja
que olvidemos as crianças. Muito pelo contrário. Ele está querendo dizer mais
ou menos assim: “Você, que almeja o Reino dos céus, preste atenção nas
crianças, tenha o coração de criança, ora. É simples.” Jesus nos impõe uma
reflexão: Qual é a nossa pressa que nos impede de pararmos e olharmos para elas
com mais atenção? Jesus veio salvar a humanidade, mas não teve pressa. Parou
para elas.
Quem
sabe, a partir de hoje, possamos lançar um outro olhar às nossas crianças. Não
subestimemos a riqueza de sua sabedoria, quantas lições elas tem a nos ensinar.
E nós, muitas vezes, achamos que elas é que precisam aprender conosco. Esquecemos
que não há ensino sem aprendizado. Mas é necessário estarmos atentos. Ouvidos e
coração atentos. Até porque, por vezes, ao invés de ensinarmos, elas é que nos
dão a lição. Qual criança pequena, por exemplo, negaria um sorriso para alguém,
independentemente de ser a pessoa mais rica do mundo ou um mendigo, ou de ser
um santo ou um pecador? Qual criança vai deixar de gostar de alguém pelas
roupas que veste, pela cor da pele, pelo sotaque, pelo modo de enxergar a vida,
pelas convicções políticas, filosóficas ou religiosas? Qual criança fica triste
por mais do que alguns instantes e depois não volta a brincar e sorrir, sem
guardar mágoa alguma? Esses são apenas alguns exemplos.
É
interessante nos lembrarmos de que todos nós fomos crianças um dia. As mesmas às
quais Jesus se refere. Acontece que à medida que crescemos, deixamos para trás
a inocência e a simplicidade da criança que nós mesmos fomos. Porque então deixamos
que se desenvolvessem em nós alguns sentimentos dos quais hoje lutamos para nos
livrar? Muitas foram as causas para que isso acontecesse e que nos levaram a
nos afastar de nós mesmos, da nossa essência mais pura e, sem querer, tomamos
caminhos outros que, ao invés de nos levar ao Reino dos céus, dele nos
afastamos cada vez mais. Certamente, não foi de propósito, não era isso que
realmente desejávamos.
Infelizmente,
à medida que vamos crescendo, começamos a dar valor a muitas coisas que de fato
não têm a menor importância. Criamos uma série de necessidades psicológicas e condicionamos
nossa felicidade a sua satisfação. Poluímos nossa mente e nosso coração. Começamos
a nos encher de sentimentos que nos deixam pesados e tristes e muitas vezes
tiramos a paz dos nossos irmãos por conta da nossa intolerância com sua maneira
de ser da qual discordamos com veemência. Sentimo-nos cheios de orgulho e
olhamos para o outro com ar de superioridade por acharmos que somos os donos da
verdade no campo da fé. Deixamos de viver o presente, cheios de mágoas e de
sentimentos mesquinhos, ou então ansiosos com o futuro o qual não sabemos se
existirá para nós.
Talvez
esteja na hora de tentarmos retomar a inocência e simplicidade perdidas ao
longo dos anos, ou parte dela ao menos. Fazermos o caminho inverso, iniciarmos
hoje mesmo uma faxina mental e espiritual, para voltarmos à nossa essência.
Realmente não foi à toa que Jesus nos chama a atenção para as crianças. Talvez
olhando com mais atenção para o seu jeito de ver o mundo, enxerguemos com mais
nitidez o verdadeiro caminho que nos leva ao Reino dos céus, o qual, antes de
tudo, começa a partir de uma reforma do nosso próprio interior.
SOBRE O TRÂNSITO
Soluções
individuais resolvem problemas coletivos?
Quem
mora em Maceió percebe nitidamente o crítico problema do nosso trânsito.
Problema “difícil” de ser resolvido e com perspectiva de se agravar ainda mais.
Sim, porque se quem está no conforto do seu carro se estressa com a lentidão do
trânsito, pode imaginar o estresse que é andar num ônibus lotado todos os dias.
Estresse pra ir ao trabalho, porque tem horário pra cumprir; estresse pra
voltar pra casa, porque está exausto e não vê a hora de descansar. E a solução
para os usuários dos coletivos que ainda não conseguem pagar um financiamento
para a compra de um carro, é adquirir uma moto. Nada mais justo.
Não
são raras, hoje, na avenida Fernandes Lima, por exemplo, filas intermináveis de
motos, que formam uma quarta faixa entre as três existentes. Tem momento que é
difícil para quem está de carro mudar de faixa. Acidentes têm sido inevitáveis, elevando o número de amputações de membros (a Adefal pode nos dizer acerca do aumento da procura por próteses), quando não causam a morte.
Dizem que há alternativas pra aliviar o trânsito, uma delas é usar bicicleta. Saudável para quem usa e para o planeta. Mas, usá-la em que ciclovia? Arriscando a vida, formando uma quinta faixa a competir com as quatro existentes (no caso de quem “desce” ou “sobe” pela F. Lima)?
Dizem que há alternativas pra aliviar o trânsito, uma delas é usar bicicleta. Saudável para quem usa e para o planeta. Mas, usá-la em que ciclovia? Arriscando a vida, formando uma quinta faixa a competir com as quatro existentes (no caso de quem “desce” ou “sobe” pela F. Lima)?
Incentivam-se
as caronas. Infelizmente, não é de se crer que essa ideia seja implementada por uma
considerável quantidade de pessoas, de modo a interferir positivamente no nosso
trânsito. Cada um tem seus horários e itinerários diários, fatores que limitam
a adesão de muitos, por mais boa vontade que possuam.
Não
é preciso ser nenhum expert em tráfego para saber qual a solução para melhorar
o trânsito em Maceió e em qualquer cidade do mundo. Mas os que podem dar um
jeito é de se supor que não moram na capital alagoana, não sentem na pele o que
os cidadãos comuns sentem, ou se utilizam de transportes outros que não os acima
citados.
Mas
enquanto o tão sonhado “transporte público de qualidade” não vem, vamos
inventando soluções individuais para os nossos graves problemas coletivos.
Deus é Homem?
Sempre questionei sobre a masculinidade de Deus. Porque temos um Deus e não uma Deusa? Jesus fala do Pai, ou seja, reforça a imagem de Deus como homem, não como mulher. Acredito mesmo que Deus não é pai nem mãe, é um SER, reunindo todas as características tidas como masculinas e femininas.
Creio que ficaria mesmo difícil p/ naquele tempo essa concepção ser aceita (e hoje também o é) e Jesus e Deus, sabendo disso, preferiram, digamos, não mexer nesse assunto, até porque isso não era o mais importante.
Jesus veio a nós encarnado como homem. Mas o primeiro capítulo do evangelho de João, diz que "No começo, a palavra já existia" (v.1) e depois que "a palavra se fez homem e habitou entre nós" (v.14). A palavra poderia se ter feito "mulher" e ter habitado entre nós do mesmo jeito. Poderíamos ler "homem" como "ser humano", então. Mas se o for, dá no mesmo, pois ser humano se refere ao homem ou à mulher. Então tanto faria o gênero em que a palavra se encarnasse.
Mas é compreensível que Jesus tenha se encarnado como homem. Ante a cultura do mundo de então, se como homem foi difícil pregar o evangelho, como mulher, quem o escutaria? Nesse campo da fé, temos mais dúvidas do que certezas, mas creio que seja possível que Jesus possa ser apenas um espírito desidentificado com masculinidade ou feminilidade, ou melhor, provido das duas características, um ser integral também, tal como Deus.
Jesus, talvez, sutilmente, estivesse apontando para essa realidade quando disse que "na ressurreição, os homens e as mulheres não se casarão, pois serão como os anjos do céu." (Mt 22, 30). Poderíamos dizer que estaria subentendido na frase um complemento mais ou menos assim: "pois serão como os anjos do céu, que não se casam", mas não creio que tenha sido nessa perspectiva, mas sim noutra: "pois serão como os anjos do céu, em sua essência." E os anjos não possuem uma identificação masculina ou feminina
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quinta-feira, 12 de julho de 2012
Ir. Kelly Patrícia - Tarde te amei - Baseada no poema de Santo Agostinho
TARDE TE AMEI (SANTO AGOSTINHO)
Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova!
Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova!
Tarde demais eu te amei!
Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava do lado de fora!
Eu, disforme, lançava-me sobre as belas formas das tuas criaturas.
Estavas comigo, mas eu não estava contigo.
Retinham-me longe de ti as tuas criaturas, que não existiriam se em ti não existissem.
Tu me chamaste, e teu grito rompeu a minha surdez.
Fulguraste e brilhaste e tua luz afugentou a minha cegueira.
Aspergiste tua fragrância e, respirando-a, suspirei por ti.
Tu me tocaste, e agora estou ardendo no desejo de tua paz...
terça-feira, 10 de julho de 2012
Nosso olhar
O olhar que lançamos
para o mundo e para todas as pessoas não é apenas o olhar proporcionado pelo
nosso extraordinário aparelho ocular. Na pequena fração de segundos em que uma
imagem captada pela nossa retina chega ao nosso cérebro, junto com ela, nesse
ínfimo espaço de tempo, chegam juntos, indissociavelmente, a visão do mundo formada
e sedimentada no nosso espírito, através do conjunto de crenças e valores por
nós assimilados diuturnamente desde que nos entendemos por gente.
Somos 7 bilhões de
seres humanos habitando nosso planeta neste exato momento. Se pararmos para
imaginar a diversidade de pensamentos, de ideologias, de crenças, de culturas,
de maneiras agir e enxergar o mundo é impressionante. E são culturas dentro de
culturas. O que é natural para uns é absurdo para outros. E dentro desse
caldeirão estamos nós.
E nós mesmos bem sabemos
que, muitas vezes, o que acreditávamos ser absolutamente verdadeiro há algum
tempo, de repente vem alguém nos diz algo que nos faz refletir sobre o assunto
e desconstroi completamente aquele conceito anterior que tínhamos. E, até sem
querer, mudamos a nossa maneira de enxergar aquilo. E daí em diante, nunca mais
vamos olhar para aquele assunto da mesma forma.
Isso quer dizer que
todos nós estamos nos construindo a cada dia. Ao contrário do que acontece com
nosso aparelho ocular, que à medida que envelhecemos, começa a apresentar
problemas e temos que recorrer a óculos e cirurgias, o olhar que temos sobre o
mundo a partir de nossos valores e das nossas mudanças só deve melhorar a cada
dia.
A partir da compreensão
de que não somos os detentores da verdade, de que nós mesmos estamos
diuturnamente em processo de mudança e que no máximo vamos encontrar uma dúzia
de pessoas que concorda conosco em alguns pontos e outras cinco dúzias que
discordam em vários outros , poderemos lançar um olhar menos crítico para os
outros, aceitando as pessoas como elas são e pensam, sem julgamentos.
O ideal é que apenas
vivamos a nossa vida de acordo com nossas convicções, porém sempre com a mente
aberta para ouvir o outro, e que estejamos sempre dispostos a nos questionarmos
acerca das nossas “verdades”. Diferente disso, corremos o risco de perdemos
ótimas oportunidades para crescermos como pessoa.
É claro que isso é uma
via de mão dupla. À medida que expomos nossa maneira de pensar, não só através
de palavras, mas também através das nossas atitudes, corremos o risco de
influenciar quem nos cerca a também rever suas próprias convicções. Mas isso
não pode implicar o distanciamento das pessoas. Muito pelo contrário. Deve dar
margem ao diálogo entre os diferentes e, assim, todos saem ganhando.
segunda-feira, 9 de julho de 2012
REFLEXÕES BÍBLICAS - JOÃO 13, 20-27
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JOÃO 13,
20-27
Em verdade,
em verdade vos digo: quem recebe aquele que eu enviei recebe a mim; e quem me
recebe, recebe aquele que me enviou. Dito isso, Jesus ficou perturbado em seu
espírito e declarou abertamente: Em verdade, em verdade vos digo: um de vós me
há de trair!... Os discípulos olhavam uns para os outros, sem saber de quem
falava. Um dos discípulos, a quem Jesus amava, estava à mesa reclinado ao peito
de Jesus. Simão Pedro acenou-lhe para dizer-lhe: Dize-nos, de quem é que ele
fala. Reclinando-se este mesmo discípulo sobre o peito de Jesus, interrogou-o:
Senhor, quem é? Jesus respondeu: É aquele a quem eu der o pão embebido. Em
seguida, molhou o pão e deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. Logo que ele
o engoliu, Satanás entrou nele. Jesus disse-lhe, então: O que queres fazer, faze-o
depressa.
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Não há dúvida de que
Jesus veio à Terra com uma missão. Não obstante, e embora preparado para o que
estava por vir, à medida que sua hora se aproximava, “ficou perturbado em seu
espírito”. Há outra passagem, no capítulo anterior, onde Jesus diz: “Presentemente, a minha alma está perturbada. Mas
que direi?... Pai, salva-me desta hora... Mas é exatamente para isso que vim a
esta hora.” (João 12, 27) As duas citações ocorreram, respectivamente, antes
da conhecida passagem do lava pés e logo após esta. Mais à frente, pouco antes
de Judas o trair, Jesus, em oração, pede: “Pai, se queres, passa de mim este
cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua. E, posto em agonia,
orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que
corriam até ao chão. (Lucas 22:42,44).
O fato de ter
consciência de sua missão não livrou Jesus de experimentar sentimentos humanos
tão conhecidos por todos nós, nem de pedir a Deus que, se fosse possível, o
livrasse do que estava por acontecer. Observe-se que anteriormente Jesus apenas
cogita a possibilidade de pedir a Deus que o livrasse da Paixão (Mas que direi?... Pai, salva-me desta hora... Mas
é exatamente para isso que vim a esta hora.”), como
que dissesse “não posso pedir isso, já que para isso mesmo foi que eu vim”, mas
depois, à medida que as horas iam avançando e o tempo de maior sofrimento se
aproximava, pede em oração para não beber daquele cálice.
Jesus, embora
perturbado em seu espírito e querendo que Deus o livrasse do sofrimento
iminente, instigou Judas a fazer depressa aquilo que estava querendo fazer. Ele
sabia que Judas o iria trair. Poderia apenas aguardar que ele o traísse no
momento que lhe aprouvesse. Mas, ao contrário, Jesus praticamente o ordenou,
como que dissesse: “já que você vai me trair, já que seu coração está tomado
pelo mal, então faça depressa.”
Aparentemente, há uma certa contradição na atitude
de Jesus. Ele está angustiado, preferiria não ter de enfrentar a paixão e
morte, pede a Deus que o livre, mas diz para Judas o trair sem mais tardar.
É difícil imaginar o quanto foi difícil para Jesus
vivenciar todo aquele sofrimento da paixão até que tudo, como ele próprio diz,
estivesse consumado. Quando paramos para pensar e comparar suas angústias com
as nossas, percebemos o quanto as nossas ficam relativamente menores. É claro
que quando estamos passando por momentos de turbulência em nossas vidas, parece
que só conseguimos enxergá-los com lentes de aumento e as barreiras a princípio
se nos apresentam como intransponíveis.
Mas Jesus nos mostra que, muitas vezes, exatamente o
que precisamos é passar por uma espécie de morte, para que surja uma vida nova.
Às vezes é preciso deixar morrer certos dramas pessoais de uma vez por todas em
nossas vidas. Possivelmente, quando Jesus diz para Judas se apressar no ato de traí-lo
tenha sido para abreviar o seu próprio sofrimento. Ele não foi pedir a Judas
para repensar o que ele ia fazer, para adiar a traição ou para, quem sabe,
aguardar até a próxima festa da páscoa para fazê-lo. Ao contrário, Jesus quer
que ele o traia depressa.
Quantas vezes arrastamos certos sofrimentos ou deixamos
de resolver certos problemas por um tempo indeterminado por não termos a coragem
de ir à raiz para arrancá-los de nós de uma vez por todas? Quantos sofrimentos
nossos não são abreviados porque ficamos gastando energia com soluções
paliativas que mais tarde exigirão de nós mais energia ainda para mantermos um
estado de coisas que nos angustia ainda mais? Quantas vezes preferimos viver
acomodados, morrendo a cada dia, indefinidamente, nos lamentando e até
atribuindo a Deus nosso triste “destino”?
Vida nova é possível para todos nós, mas muitas
vezes só é alcançada quando conseguimos visualizar a ressurreição como certeza,
enfrentando a nossa própria paixão e deixando que seja feita em nós a vontade
do Pai. Lembrando que para isso é preciso sempre nos colocar em oração, como
fez Jesus.
Reflexão Bíblica - LUCAS 6, 27
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LUCAS 6, 27
“Mas eu digo
a vocês que me escutam: amem os seus inimigos e façam o bem aos que odeiam
vocês.”
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Tarefa árdua Jesus nos deixou: amar os inimigos. Com
Jesus não tem meio-termo não. Ele vai logo ao extremo da questão. Ele bem que
poderia ser mais maleável, poderia ter dito algo mais ou menos assim: “pessoal,
não ame apenas seus pais, filhos e demais parentes, ame também seus vizinhos,
mesmo que vocês não simpatizem muito com eles, amem seus patrões, muito embora
eles não sejam tão legais assim como você gostaria, amem seus subordinados,
ainda quando a vontade às vezes é de xingá-los, por um serviço mal feito.” Mas
Jesus radicalizou. E além de mandar amar os inimigos, ainda mandou fazer o bem
para eles.
Realmente, a missão não é nada fácil. Frise-se que
Jesus mandou amar. Isso mesmo. Foi um
mandamento. Uma ordem. E quem se propõe a seguir os ensinamentos de Jesus, no mínimo,
deverá ter boa vontade para obedecê-lo. Mas, pensando bem. Amor não é um
sentimento? Então como alguém pode ser obrigado, ordenado a amar? Mas será que Jesus, em sua grande sabedoria,
iria nos mandar amar, sem que isso não fosse possível? Não é de se crer.
Se somos todos filhos de Deus, formados a sua imagem
e semelhança e se Deus é amor, não há como não termos, digamos, em nosso DNA,
esse potencial para amar a todos, assim como Deus nos ama a todos. O que
acontece é que estamos tão impregnados de outros sentimentos que reduzimos essa
magnífica capacidade nos dada de herança por Deus.
Como sabemos, no mundo encontramos a maldade e a
bondade e, por vezes, pessoas tomam atitudes contra nós que nos prejudicam, que
nos abalam psicologicamente, que nos colocam numa situação de injustiçados.
Pessoas às vezes nos traem, nos ofendem, nos menosprezam, nos tiram a paz...Talvez
não tenhamos alguém que nós consideramos propriamente inimigos, mas certamente
passamos por situações onde pessoas tomam atitudes contra nós próprias de um
inimigo.
Mas o que é que pretende Jesus quando nos ordena
amar os inimigos e fazer-lhes o bem? Ele
não quer que nos tornemos amigos deles. Não é essa a pretensão. Até porque
amizade pressupõe afinidade. O que Jesus quer é que rompamos com a cadeia do
mal. Amo meu inimigo quando não faço nada que possa prejudicá-lo, quando não
falo mal dele para ninguém, quando colocado numa situação em que poderia
revidar uma ofensa, não o faço ou quando estou numa situação em que posso
ajuda-lo, o faço, como se a um desconhecido o fizesse.
Jesus falou muitas coisas sobre o Reino de Deus, e
uma delas é que ele “não vem ostensivamente. Nem se poderá dizer: ´Está aqui´
ou: ´está ali´, porque o Reino de Deus está no meio de vocês” (Lc 17, 20b-21).
E com atitudes de amor para com aqueles que nos odeiam e/ou nos fazem o mal,
estamos de efetivamente dando a nossa contribuição para que o Reino de Deus vá se tornando realidade em meio a nós.
Jesus bem sabe que para alguns (os duros de coração)
nenhuma atitude de amor vai amolecê-los. Mas se Jesus nos manda amar nossos
inimigos e fazer o bem a quem nos odeia, é porque ele também sabe daqueles que,
mesmo tendo praticando o mal contra nós, causando-nos sofrimento, podem, talvez, a partir da nossa postura, refletir, repensar sua maneira de agir e mudar de atitude, tornando-se pessoas melhores.
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