sábado, 14 de julho de 2012

Deus é Homem?


Sempre questionei sobre a masculinidade de Deus. Porque temos um Deus e não uma Deusa? Jesus fala do Pai, ou seja, reforça a imagem de Deus como homem, não como mulher. Acredito mesmo que Deus não é pai nem mãe, é um SER, reunindo todas as características tidas como masculinas e femininas.
Creio que ficaria mesmo difícil p/ naquele tempo essa concepção ser aceita (e hoje também o é) e Jesus e Deus, sabendo disso, preferiram, digamos, não mexer nesse assunto, até porque isso não era o mais importante.
Jesus veio a nós encarnado como homem. Mas o primeiro capítulo do evangelho de João, diz que "No começo, a palavra já existia" (v.1) e depois que "a palavra se fez homem e habitou entre nós" (v.14). A palavra poderia se ter feito "mulher" e ter habitado entre nós do mesmo jeito. Poderíamos ler "homem" como "ser humano", então. Mas se o for, dá no mesmo, pois ser humano se refere ao homem ou à mulher. Então tanto faria o gênero em que a palavra se encarnasse.
Mas é compreensível que Jesus tenha se encarnado como homem. Ante a cultura do mundo de então, se como homem foi difícil pregar o evangelho, como mulher, quem o escutaria? Nesse campo da fé, temos mais dúvidas do que certezas, mas creio que seja possível que Jesus possa ser apenas um espírito desidentificado com masculinidade ou feminilidade, ou melhor, provido das duas características, um ser integral também, tal como Deus.
Jesus, talvez, sutilmente, estivesse apontando para essa realidade quando disse que "na ressurreição, os homens e as mulheres não se casarão, pois serão como os anjos do céu." (Mt 22, 30). Poderíamos dizer que estaria subentendido na frase um complemento mais ou menos assim: "pois serão como os anjos do céu, que não se casam", mas não creio que tenha sido nessa perspectiva, mas sim noutra: "pois serão como os anjos do céu, em sua essência." E os anjos não possuem uma identificação masculina ou feminina.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

MATEUS 19, 13-15


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MATEUS 19, 13-15
Foram-lhe, então, apresentadas algumas criancinhas para que pusesse as mãos sobre elas e orasse por elas. Os discípulos, porém, as afastavam. Disse-lhes Jesus: Deixai vir a mim estas criancinhas e não as impeçais, porque o Reino dos céus pertence a elas. E, depois de impor-lhes as mãos, continuou seu caminho.
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Nesta passagem, Jesus, sabiamente, nos lembra do quanto as crianças são preciosas, a tal ponto de dizer que o Reino dos céus lhes pertence.  Diz o texto, ainda, que “...depois de impor-lhes as mãos, (Jesus) continuou seu caminho.” Jesus estava a caminho. Por certo, multidões esperavam Jesus ali ou acolá para ouvi-lo. E Jesus tinha muito o que pregar às multidões. Afinal, foi para isso que ele veio à Terra. Os discípulos sabiam disso, não queriam que o Mestre se atrasasse (aquela pressa habitual de quem tem agenda lotada) e quiseram impedir a aproximação das crianças. Tentaram afastá-las. Mas Jesus parou. Deu atenção pras crianças. Abençoou-as. Não as deixou em segundo plano. As multidões podiam esperar um pouco. Que cuidado, carinho e atenção Jesus dispensou às crianças!
Não foi por acaso que ele nos deixou esta mensagem. A palavra de Jesus não pode se limitar a meras constatações. Deve produzir frutos. Jesus certamente não deseja que olvidemos as crianças. Muito pelo contrário. Ele está querendo dizer mais ou menos assim: “Você, que almeja o Reino dos céus, preste atenção nas crianças, tenha o coração de criança, ora. É simples.” Jesus nos impõe uma reflexão: Qual é a nossa pressa que nos impede de pararmos e olharmos para elas com mais atenção? Jesus veio salvar a humanidade, mas não teve pressa. Parou para elas.
Quem sabe, a partir de hoje, possamos lançar um outro olhar às nossas crianças. Não subestimemos a riqueza de sua sabedoria, quantas lições elas tem a nos ensinar. E nós, muitas vezes, achamos que elas é que precisam aprender conosco. Esquecemos que não há ensino sem aprendizado. Mas é necessário estarmos atentos. Ouvidos e coração atentos. Até porque, por vezes, ao invés de ensinarmos, elas é que nos dão a lição. Qual criança pequena, por exemplo, negaria um sorriso para alguém, independentemente de ser a pessoa mais rica do mundo ou um mendigo, ou de ser um santo ou um pecador? Qual criança vai deixar de gostar de alguém pelas roupas que veste, pela cor da pele, pelo sotaque, pelo modo de enxergar a vida, pelas convicções políticas, filosóficas ou religiosas? Qual criança fica triste por mais do que alguns instantes e depois não volta a brincar e sorrir, sem guardar mágoa alguma? Esses são apenas alguns exemplos.
É interessante nos lembrarmos de que todos nós fomos crianças um dia. As mesmas às quais Jesus se refere. Acontece que à medida que crescemos, deixamos para trás a inocência e a simplicidade da criança que nós mesmos fomos. Porque então deixamos que se desenvolvessem em nós alguns sentimentos dos quais hoje lutamos para nos livrar? Muitas foram as causas para que isso acontecesse e que nos levaram a nos afastar de nós mesmos, da nossa essência mais pura e, sem querer, tomamos caminhos outros que, ao invés de nos levar ao Reino dos céus, dele nos afastamos cada vez mais. Certamente, não foi de propósito, não era isso que realmente desejávamos.
Infelizmente, à medida que vamos crescendo, começamos a dar valor a muitas coisas que de fato não têm a menor importância. Criamos uma série de necessidades psicológicas e condicionamos nossa felicidade a sua satisfação. Poluímos nossa mente e nosso coração. Começamos a nos encher de sentimentos que nos deixam pesados e tristes e muitas vezes tiramos a paz dos nossos irmãos por conta da nossa intolerância com sua maneira de ser da qual discordamos com veemência. Sentimo-nos cheios de orgulho e olhamos para o outro com ar de superioridade por acharmos que somos os donos da verdade no campo da fé. Deixamos de viver o presente, cheios de mágoas e de sentimentos mesquinhos, ou então ansiosos com o futuro o qual não sabemos se existirá para nós.
Talvez esteja na hora de tentarmos retomar a inocência e simplicidade perdidas ao longo dos anos, ou parte dela ao menos. Fazermos o caminho inverso, iniciarmos hoje mesmo uma faxina mental e espiritual, para voltarmos à nossa essência. Realmente não foi à toa que Jesus nos chama a atenção para as crianças. Talvez olhando com mais atenção para o seu jeito de ver o mundo, enxerguemos com mais nitidez o verdadeiro caminho que nos leva ao Reino dos céus, o qual, antes de tudo, começa a partir de uma reforma do nosso próprio interior.

SOBRE O TRÂNSITO

Soluções individuais resolvem problemas coletivos?

Quem mora em Maceió percebe nitidamente o crítico problema do nosso trânsito. Problema “difícil” de ser resolvido e com perspectiva de se agravar ainda mais. Sim, porque se quem está no conforto do seu carro se estressa com a lentidão do trânsito, pode imaginar o estresse que é andar num ônibus lotado todos os dias. Estresse pra ir ao trabalho, porque tem horário pra cumprir; estresse pra voltar pra casa, porque está exausto e não vê a hora de descansar. E a solução para os usuários dos coletivos que ainda não conseguem pagar um financiamento para a compra de um carro, é adquirir uma moto. Nada mais justo.
Não são raras, hoje, na avenida Fernandes Lima, por exemplo, filas intermináveis de motos, que formam uma quarta faixa entre as três existentes. Tem momento que é difícil para quem está de carro mudar de faixa. Acidentes têm sido inevitáveis, elevando o número de amputações de membros (a Adefal pode nos dizer acerca do aumento da procura por próteses), quando não causam a morte.

Dizem que há alternativas pra aliviar o trânsito, uma delas é usar bicicleta. Saudável para quem usa e para o planeta. Mas, usá-la em que ciclovia? Arriscando a vida, formando uma quinta faixa a competir com as quatro existentes (no caso de quem “desce” ou “sobe” pela F. Lima)?
Incentivam-se as caronas. Infelizmente, não é de se crer que essa ideia seja implementada por uma considerável quantidade de pessoas, de modo a interferir positivamente no nosso trânsito. Cada um tem seus horários e itinerários diários, fatores que limitam a adesão de muitos, por mais boa vontade que possuam.
Não é preciso ser nenhum expert em tráfego para saber qual a solução para melhorar o trânsito em Maceió e em qualquer cidade do mundo. Mas os que podem dar um jeito é de se supor que não moram na capital alagoana, não sentem na pele o que os cidadãos comuns sentem, ou se utilizam de transportes outros que não os acima citados.
Mas enquanto o tão sonhado “transporte público de qualidade” não vem, vamos inventando soluções individuais para os nossos graves problemas coletivos.

Deus é Homem?


Sempre questionei sobre a masculinidade de Deus. Porque temos um Deus e não uma Deusa? Jesus fala do Pai, ou seja, reforça a imagem de Deus como homem, não como mulher. Acredito mesmo que Deus não é pai nem mãe, é um SER, reunindo todas as características tidas como masculinas e femininas.
Creio que ficaria mesmo difícil p/ naquele tempo essa concepção ser aceita (e hoje também o é) e Jesus e Deus, sabendo disso, preferiram, digamos, não mexer nesse assunto, até porque isso não era o mais importante.
Jesus veio a nós encarnado como homem. Mas o primeiro capítulo do evangelho de João, diz que "No começo, a palavra já existia" (v.1) e depois que "a palavra se fez homem e habitou entre nós" (v.14). A palavra poderia se ter feito "mulher" e ter habitado entre nós do mesmo jeito. Poderíamos ler "homem" como "ser humano", então. Mas se o for, dá no mesmo, pois ser humano se refere ao homem ou à mulher. Então tanto faria o gênero em que a palavra se encarnasse.
Mas é compreensível que Jesus tenha se encarnado como homem. Ante a cultura do mundo de então, se como homem foi difícil pregar o evangelho, como mulher, quem o escutaria? Nesse campo da fé, temos mais dúvidas do que certezas, mas creio que seja possível que Jesus possa ser apenas um espírito desidentificado com masculinidade ou feminilidade, ou melhor, provido das duas características, um ser integral também, tal como Deus.
Jesus, talvez, sutilmente, estivesse apontando para essa realidade quando disse que "na ressurreição, os homens e as mulheres não se casarão, pois serão como os anjos do céu." (Mt 22, 30). Poderíamos dizer que estaria subentendido na frase um complemento mais ou menos assim: "pois serão como os anjos do céu, que não se casam", mas não creio que tenha sido nessa perspectiva, mas sim noutra: "pois serão como os anjos do céu, em sua essência." E os anjos não possuem uma identificação masculina ou feminina
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quinta-feira, 12 de julho de 2012

Ir. Kelly Patrícia - Tarde te amei - Baseada no poema de Santo Agostinho

TARDE TE AMEI  (SANTO AGOSTINHO)

Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova!
Tarde demais eu te amei!
Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava do lado de fora!
Eu, disforme, lançava-me sobre as belas formas das tuas criaturas.
Estavas comigo, mas eu não estava contigo.
Retinham-me longe de ti as tuas criaturas, que não existiriam se em ti não existissem.
Tu me chamaste, e teu grito rompeu a minha surdez.
Fulguraste e brilhaste e tua luz afugentou a minha cegueira.
Aspergiste tua fragrância e, respirando-a, suspirei por ti.
Tu me tocaste, e agora estou ardendo no desejo de tua paz...

                   

terça-feira, 10 de julho de 2012

Nosso olhar


O olhar que lançamos para o mundo e para todas as pessoas não é apenas o olhar proporcionado pelo nosso extraordinário aparelho ocular. Na pequena fração de segundos em que uma imagem captada pela nossa retina chega ao nosso cérebro, junto com ela, nesse ínfimo espaço de tempo, chegam juntos, indissociavelmente, a visão do mundo formada e sedimentada no nosso espírito, através do conjunto de crenças e valores por nós assimilados diuturnamente desde que nos entendemos por gente.
Somos 7 bilhões de seres humanos habitando nosso planeta neste exato momento. Se pararmos para imaginar a diversidade de pensamentos, de ideologias, de crenças, de culturas, de maneiras agir e enxergar o mundo é impressionante. E são culturas dentro de culturas. O que é natural para uns é absurdo para outros. E dentro desse caldeirão estamos nós.
E nós mesmos bem sabemos que, muitas vezes, o que acreditávamos ser absolutamente verdadeiro há algum tempo, de repente vem alguém nos diz algo que nos faz refletir sobre o assunto e desconstroi completamente aquele conceito anterior que tínhamos. E, até sem querer, mudamos a nossa maneira de enxergar aquilo. E daí em diante, nunca mais vamos olhar para aquele assunto da mesma forma.
Isso quer dizer que todos nós estamos nos construindo a cada dia. Ao contrário do que acontece com nosso aparelho ocular, que à medida que envelhecemos, começa a apresentar problemas e temos que recorrer a óculos e cirurgias, o olhar que temos sobre o mundo a partir de nossos valores e das nossas mudanças só deve melhorar a cada dia.
A partir da compreensão de que não somos os detentores da verdade, de que nós mesmos estamos diuturnamente em processo de mudança e que no máximo vamos encontrar uma dúzia de pessoas que concorda conosco em alguns pontos e outras cinco dúzias que discordam em vários outros , poderemos lançar um olhar menos crítico para os outros, aceitando as pessoas como elas são e pensam, sem julgamentos.
O ideal é que apenas vivamos a nossa vida de acordo com nossas convicções, porém sempre com a mente aberta para ouvir o outro, e que estejamos sempre dispostos a nos questionarmos acerca das nossas “verdades”. Diferente disso, corremos o risco de perdemos ótimas oportunidades para crescermos como pessoa.
É claro que isso é uma via de mão dupla. À medida que expomos nossa maneira de pensar, não só através de palavras, mas também através das nossas atitudes, corremos o risco de influenciar quem nos cerca a também rever suas próprias convicções. Mas isso não pode implicar o distanciamento das pessoas. Muito pelo contrário. Deve dar margem ao diálogo entre os diferentes e, assim, todos saem ganhando.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

REFLEXÕES BÍBLICAS - JOÃO 13, 20-27


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JOÃO 13, 20-27
Em verdade, em verdade vos digo: quem recebe aquele que eu enviei recebe a mim; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou. Dito isso, Jesus ficou perturbado em seu espírito e declarou abertamente: Em verdade, em verdade vos digo: um de vós me há de trair!... Os discípulos olhavam uns para os outros, sem saber de quem falava. Um dos discípulos, a quem Jesus amava, estava à mesa reclinado ao peito de Jesus. Simão Pedro acenou-lhe para dizer-lhe: Dize-nos, de quem é que ele fala. Reclinando-se este mesmo discípulo sobre o peito de Jesus, interrogou-o: Senhor, quem é? Jesus respondeu: É aquele a quem eu der o pão embebido. Em seguida, molhou o pão e deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. Logo que ele o engoliu, Satanás entrou nele. Jesus disse-lhe, então: O que queres fazer, faze-o depressa.
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Não há dúvida de que Jesus veio à Terra com uma missão. Não obstante, e embora preparado para o que estava por vir, à medida que sua hora se aproximava, “ficou perturbado em seu espírito”. Há outra passagem, no capítulo anterior, onde Jesus diz: “Presentemente, a minha alma está perturbada. Mas que direi?... Pai, salva-me desta hora... Mas é exatamente para isso que vim a esta hora.” (João 12, 27) As duas citações ocorreram, respectivamente, antes da conhecida passagem do lava pés e logo após esta. Mais à frente, pouco antes de Judas o trair, Jesus, em oração, pede: “Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua. E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão. (Lucas 22:42,44).
O fato de ter consciência de sua missão não livrou Jesus de experimentar sentimentos humanos tão conhecidos por todos nós, nem de pedir a Deus que, se fosse possível, o livrasse do que estava por acontecer. Observe-se que anteriormente Jesus apenas cogita a possibilidade de pedir a Deus que o livrasse da Paixão (Mas que direi?... Pai, salva-me desta hora... Mas é exatamente para isso que vim a esta hora.), como que dissesse “não posso pedir isso, já que para isso mesmo foi que eu vim”, mas depois, à medida que as horas iam avançando e o tempo de maior sofrimento se aproximava, pede em oração para não beber daquele cálice.
Jesus, embora perturbado em seu espírito e querendo que Deus o livrasse do sofrimento iminente, instigou Judas a fazer depressa aquilo que estava querendo fazer. Ele sabia que Judas o iria trair. Poderia apenas aguardar que ele o traísse no momento que lhe aprouvesse. Mas, ao contrário, Jesus praticamente o ordenou, como que dissesse: “já que você vai me trair, já que seu coração está tomado pelo mal, então faça depressa.” 
Aparentemente, há uma certa contradição na atitude de Jesus. Ele está angustiado, preferiria não ter de enfrentar a paixão e morte, pede a Deus que o livre, mas diz para Judas o trair sem mais tardar.
É difícil imaginar o quanto foi difícil para Jesus vivenciar todo aquele sofrimento da paixão até que tudo, como ele próprio diz, estivesse consumado. Quando paramos para pensar e comparar suas angústias com as nossas, percebemos o quanto as nossas ficam relativamente menores. É claro que quando estamos passando por momentos de turbulência em nossas vidas, parece que só conseguimos enxergá-los com lentes de aumento e as barreiras a princípio se nos apresentam como intransponíveis.
Mas Jesus nos mostra que, muitas vezes, exatamente o que precisamos é passar por uma espécie de morte, para que surja uma vida nova. Às vezes é preciso deixar morrer certos dramas pessoais de uma vez por todas em nossas vidas. Possivelmente, quando Jesus diz para Judas se apressar no ato de traí-lo tenha sido para abreviar o seu próprio sofrimento. Ele não foi pedir a Judas para repensar o que ele ia fazer, para adiar a traição ou para, quem sabe, aguardar até a próxima festa da páscoa para fazê-lo. Ao contrário, Jesus quer que ele o traia depressa.
Quantas vezes arrastamos certos sofrimentos ou deixamos de resolver certos problemas por um tempo indeterminado por não termos a coragem de ir à raiz para arrancá-los de nós de uma vez por todas? Quantos sofrimentos nossos não são abreviados porque ficamos gastando energia com soluções paliativas que mais tarde exigirão de nós mais energia ainda para mantermos um estado de coisas que nos angustia ainda mais? Quantas vezes preferimos viver acomodados, morrendo a cada dia, indefinidamente, nos lamentando e até atribuindo a Deus nosso triste “destino”?
Vida nova é possível para todos nós, mas muitas vezes só é alcançada quando conseguimos visualizar a ressurreição como certeza, enfrentando a nossa própria paixão e deixando que seja feita em nós a vontade do Pai. Lembrando que para isso é preciso sempre nos colocar em oração, como fez Jesus.

Reflexão Bíblica - LUCAS 6, 27


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LUCAS 6, 27
“Mas eu digo a vocês que me escutam: amem os seus inimigos e façam o bem aos que odeiam vocês.”
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Tarefa árdua Jesus nos deixou: amar os inimigos. Com Jesus não tem meio-termo não. Ele vai logo ao extremo da questão. Ele bem que poderia ser mais maleável, poderia ter dito algo mais ou menos assim: “pessoal, não ame apenas seus pais, filhos e demais parentes, ame também seus vizinhos, mesmo que vocês não simpatizem muito com eles, amem seus patrões, muito embora eles não sejam tão legais assim como você gostaria, amem seus subordinados, ainda quando a vontade às vezes é de xingá-los, por um serviço mal feito.” Mas Jesus radicalizou. E além de mandar amar os inimigos, ainda mandou fazer o bem para eles.
Realmente, a missão não é nada fácil. Frise-se que Jesus mandou amar. Isso mesmo. Foi um mandamento. Uma ordem. E quem se propõe a seguir os ensinamentos de Jesus, no mínimo, deverá ter boa vontade para obedecê-lo. Mas, pensando bem. Amor não é um sentimento? Então como alguém pode ser obrigado, ordenado a amar?  Mas será que Jesus, em sua grande sabedoria, iria nos mandar amar, sem que isso não fosse possível? Não é de se crer.
Se somos todos filhos de Deus, formados a sua imagem e semelhança e se Deus é amor, não há como não termos, digamos, em nosso DNA, esse potencial para amar a todos, assim como Deus nos ama a todos. O que acontece é que estamos tão impregnados de outros sentimentos que reduzimos essa magnífica capacidade nos dada de herança por Deus.
Como sabemos, no mundo encontramos a maldade e a bondade e, por vezes, pessoas tomam atitudes contra nós que nos prejudicam, que nos abalam psicologicamente, que nos colocam numa situação de injustiçados. Pessoas às vezes nos traem, nos ofendem, nos menosprezam, nos tiram a paz...Talvez não tenhamos alguém que nós consideramos propriamente inimigos, mas certamente passamos por situações onde pessoas tomam atitudes contra nós próprias de um inimigo. 
Mas o que é que pretende Jesus quando nos ordena amar os inimigos e fazer-lhes o bem?  Ele não quer que nos tornemos amigos deles. Não é essa a pretensão. Até porque amizade pressupõe afinidade. O que Jesus quer é que rompamos com a cadeia do mal. Amo meu inimigo quando não faço nada que possa prejudicá-lo, quando não falo mal dele para ninguém, quando colocado numa situação em que poderia revidar uma ofensa, não o faço ou quando estou numa situação em que posso ajuda-lo, o faço, como se a um desconhecido o fizesse.
Jesus falou muitas coisas sobre o Reino de Deus, e uma delas é que ele “não vem ostensivamente. Nem se poderá dizer: ´Está aqui´ ou: ´está ali´, porque o Reino de Deus está no meio de vocês” (Lc 17, 20b-21). E com atitudes de amor para com aqueles que nos odeiam e/ou nos fazem o mal, estamos de efetivamente dando a nossa contribuição para que o Reino de Deus vá se tornando realidade em meio a nós.
Jesus bem sabe que para alguns (os duros de coração) nenhuma atitude de amor vai amolecê-los. Mas se Jesus nos manda amar nossos inimigos e fazer o bem a quem nos odeia, é porque ele também sabe daqueles que, mesmo tendo praticando o mal contra nós, causando-nos sofrimento, podem, talvez, a partir da nossa postura, refletir, repensar sua maneira de agir e mudar de atitude, tornando-se pessoas melhores.