segunda-feira, 9 de julho de 2012

REFLEXÕES BÍBLICAS - JOÃO 13, 20-27


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JOÃO 13, 20-27
Em verdade, em verdade vos digo: quem recebe aquele que eu enviei recebe a mim; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou. Dito isso, Jesus ficou perturbado em seu espírito e declarou abertamente: Em verdade, em verdade vos digo: um de vós me há de trair!... Os discípulos olhavam uns para os outros, sem saber de quem falava. Um dos discípulos, a quem Jesus amava, estava à mesa reclinado ao peito de Jesus. Simão Pedro acenou-lhe para dizer-lhe: Dize-nos, de quem é que ele fala. Reclinando-se este mesmo discípulo sobre o peito de Jesus, interrogou-o: Senhor, quem é? Jesus respondeu: É aquele a quem eu der o pão embebido. Em seguida, molhou o pão e deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes. Logo que ele o engoliu, Satanás entrou nele. Jesus disse-lhe, então: O que queres fazer, faze-o depressa.
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Não há dúvida de que Jesus veio à Terra com uma missão. Não obstante, e embora preparado para o que estava por vir, à medida que sua hora se aproximava, “ficou perturbado em seu espírito”. Há outra passagem, no capítulo anterior, onde Jesus diz: “Presentemente, a minha alma está perturbada. Mas que direi?... Pai, salva-me desta hora... Mas é exatamente para isso que vim a esta hora.” (João 12, 27) As duas citações ocorreram, respectivamente, antes da conhecida passagem do lava pés e logo após esta. Mais à frente, pouco antes de Judas o trair, Jesus, em oração, pede: “Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua. E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão. (Lucas 22:42,44).
O fato de ter consciência de sua missão não livrou Jesus de experimentar sentimentos humanos tão conhecidos por todos nós, nem de pedir a Deus que, se fosse possível, o livrasse do que estava por acontecer. Observe-se que anteriormente Jesus apenas cogita a possibilidade de pedir a Deus que o livrasse da Paixão (Mas que direi?... Pai, salva-me desta hora... Mas é exatamente para isso que vim a esta hora.), como que dissesse “não posso pedir isso, já que para isso mesmo foi que eu vim”, mas depois, à medida que as horas iam avançando e o tempo de maior sofrimento se aproximava, pede em oração para não beber daquele cálice.
Jesus, embora perturbado em seu espírito e querendo que Deus o livrasse do sofrimento iminente, instigou Judas a fazer depressa aquilo que estava querendo fazer. Ele sabia que Judas o iria trair. Poderia apenas aguardar que ele o traísse no momento que lhe aprouvesse. Mas, ao contrário, Jesus praticamente o ordenou, como que dissesse: “já que você vai me trair, já que seu coração está tomado pelo mal, então faça depressa.” 
Aparentemente, há uma certa contradição na atitude de Jesus. Ele está angustiado, preferiria não ter de enfrentar a paixão e morte, pede a Deus que o livre, mas diz para Judas o trair sem mais tardar.
É difícil imaginar o quanto foi difícil para Jesus vivenciar todo aquele sofrimento da paixão até que tudo, como ele próprio diz, estivesse consumado. Quando paramos para pensar e comparar suas angústias com as nossas, percebemos o quanto as nossas ficam relativamente menores. É claro que quando estamos passando por momentos de turbulência em nossas vidas, parece que só conseguimos enxergá-los com lentes de aumento e as barreiras a princípio se nos apresentam como intransponíveis.
Mas Jesus nos mostra que, muitas vezes, exatamente o que precisamos é passar por uma espécie de morte, para que surja uma vida nova. Às vezes é preciso deixar morrer certos dramas pessoais de uma vez por todas em nossas vidas. Possivelmente, quando Jesus diz para Judas se apressar no ato de traí-lo tenha sido para abreviar o seu próprio sofrimento. Ele não foi pedir a Judas para repensar o que ele ia fazer, para adiar a traição ou para, quem sabe, aguardar até a próxima festa da páscoa para fazê-lo. Ao contrário, Jesus quer que ele o traia depressa.
Quantas vezes arrastamos certos sofrimentos ou deixamos de resolver certos problemas por um tempo indeterminado por não termos a coragem de ir à raiz para arrancá-los de nós de uma vez por todas? Quantos sofrimentos nossos não são abreviados porque ficamos gastando energia com soluções paliativas que mais tarde exigirão de nós mais energia ainda para mantermos um estado de coisas que nos angustia ainda mais? Quantas vezes preferimos viver acomodados, morrendo a cada dia, indefinidamente, nos lamentando e até atribuindo a Deus nosso triste “destino”?
Vida nova é possível para todos nós, mas muitas vezes só é alcançada quando conseguimos visualizar a ressurreição como certeza, enfrentando a nossa própria paixão e deixando que seja feita em nós a vontade do Pai. Lembrando que para isso é preciso sempre nos colocar em oração, como fez Jesus.

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